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Crítica – Missão Impossível: O Acerto Final

Finalizar uma franquia que, por vezes, redefiniu o cinema de ação nos últimos 30 anos nunca seria uma missão simples. Missão: Impossível – O Acerto Final se propõe a essa tarefa com a pompa de um blockbuster grandioso e a responsabilidade de fechar o ciclo de seu protagonista, Ethan Hunt. O resultado? Um espetáculo de proporções épicas, mas que volta e meia escorrega no peso de suas ousadas ambições.

Dono de um roteiro audaciosamente inchado e uma direção atipicamente expositiva, o longa caminha entre a reverência ao legado e a hesitação narrativa — mas nada disso tira o brilho de um encerramento monumental para uma das maiores franquias do cinema.

Na trama, Ethan Hunt (Tom Cruise) volta a enfrentar uma ameaça de escala global, aqui personificadas por Gabriel (Esai Morales) e por uma inteligência artificial capaz de reescrever as regras do mundo moderno. Ao lado de sua nova aliada Grace (Hayley Atwell), e dos velhos parceiros Benji (Simon Pegg) e Luther (Ving Rhames), Hunt embarca em uma literal corrida contra o tempo – talvez a última.

Entre segredos do passado e conspirações digitais, fatalmente a missão se desdobra em mais camadas do que realmente precisava.

Tom Cruise, mais do que ninguém, sabe exatamente como fazer um bom blockbuster. Aos 62 anos, o astro toma para si um protagonismo primoroso dentro e fora das telas, desafiando a física e a lógica narrativa com cenas de ação que fariam qualquer dublê suar frio. E é justamente essa entrega física, quase devocional, que sustenta O Acerto Final mesmo nos momentos em que o roteiro titubeia.

Há aqui um esforço genuíno em homenagear a trajetória da franquia. A fotografia de Fraser Taggart aposta em uma estética que flerta com os anos 90, incluindo uma granulação proposital em algumas cenas, em clara reverência ao primeiro Missão: Impossível (1996) de Brian de Palma. O filme também não economiza em set pieces: a sequência envolvendo dois aviões, facilmente entra para a história do gênero. A todo tempo o longa desafia qualquer expectativa de realismo, o que enche os olhos, tira o fôlego e funciona.

Outro ponto positivo está na vulnerabilidade de Ethan Hunt. Pela primeira vez em muito tempo, vemos o personagem exausto, emocionalmente exposto, lidando com perdas e dúvidas. Essa humanização ajuda a equilibrar a superprodução com notas de uma dramaticidade sem exageros.

Mas toda essa grandiosidade tem um preço. Se em um passado recente McQuarrie, se mostrou capaz de administrar o caos com um ritmo impecável, aqui se rende à verborragia e à necessidade de explicar cada detalhe. O filme parece desconfiar da inteligência do espectador, subestimando sua capacidade de preencher lacunas ou simplesmente sentir a urgência da narrativa sem que ela seja verbalizada o tempo todo. Com isso, quem sofre é o ritmo.

Apesar das falhas, Missão: Impossível – O Acerto Final entrega aquilo que prometeu: um espetáculo de ação em escala global, guiado por um astro que simplesmente se recusa a envelhecer como os outros. O filme não é o auge da franquia, tampouco sua queda livre. É um capítulo robusto, reverente e, por vezes, pesado demais, que fecha portas mas faz questão de deixar janelas abertas.

E se a pergunta que paira ao final é “será esse realmente o fim?”, a resposta parece ser um reticente “ainda não”. Afinal, sejamos honestos: Missão: Impossível se tornou grande demais para caber em uma despedida só. E Tom Cruise, grande demais, para não ter mais uma grande cena planejada e guardada na manga.

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