Crítica – Thunderbolts*
Justo quando a Marvel parecia ter esgotado sua cota de milagres — e criatividade, o estúdio, que já ditou o ritmo dos blockbusters em Hollywood, contra todas as previsões, e talvez até a própria lógica narrativa, a Casa das Ideias ganha um novo fôlego com Thunderbolts*.
Pois é, o filme dos anti-heróis que absolutamente ninguém levou muito a sério, acabou se tornando um respiro completamente inesperado em um universo cansado, que parecia se afogar mais e mais a cada produção em escabrosos CGIs de baixa qualidade e fan services gratuitos.
A trama, gira em torno de um grupo de desajustados liderados, em teoria, por Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus), que monta sua própria equipe de heróis de moral duvidosa, na esperança de incinerar seus segredos mais sombrios. No centro de tudo, temos Yelena Belova (Florence Pugh), que transforma o luto em combustível e se afunda em uma lista interminável de “trabalhos” para afastar o vazio que sente. Enquanto Bucky Barnes (Sebastian Stan) se esforça como pode para manter-se relevante, ocupando uma nova função neste mundo. Os caminhos deles se cruzam quando um novo problema aparece, mas desse vez os Vingadores não estão lá para salvar o mundo.

O que surpreende em Thunderbolts* é justamente sua honestidade e autoconsciência. O fato da produção não tentar se levar a sério o tempo todo, paradoxalmente, a torna talvez mais séria e eficaz que boa parte do que o MCU lançou recentemente. O elenco, afiado e afinado, ganha destaque em cada interação apaixonantemente desequilibrada entre seus personagens. — Florence Pugh e David Harbour, em especial, dominam cada cena esbanjando carisma e timing cômico. A química entre os personagens é crua, disfuncional e, por isso mesmo, autêntica. É um grupo de anti-heróis que, por mais quebrados, física e psicologicamente, que estejam, entendem algo que a Marvel vinha esquecendo: emoção sem pieguice e humanidade sem capa.
É verdade que a direção de Jake Schreier, por vezes, se esconde atrás do talentoso elenco, quase sem entregar cenas com assinatura, acenando poucas vezes com uma visão mais apurada ou mesmo uma fotografia mais elaborada. Há também um incomodo desequilíbrio no ritmo — enquanto alguns arcos emocionais são super bem desenvolvidos, outros caem no limbo do “fica pra próxima fase”.
O vilão, até poderia ser um ponto de dúvidas no longa, muito embora bem-intencionado na inteligente proposta de discutir assuntos complicados como saúde mental e o luto, é fácil ficar com a sensação é de que ele está ali mais como gatilho temático do que ameaça concreta. Mas a atuação brilhante de Lewis Pullman, ajuda na construção de um personagem interessante, carismático e cheio de camadas.
Thunderbolts* talvez não seja o renascimento glorioso que os fãs aguardavam, mas é, sem dúvida, o tapa na cara que a Marvel precisava levar. Menos épico, menos formulaico e muito mais pessoal e cheio de personalidade. E convenhamos, quando um grupo de personagens considerados descartáveis consegue entregar mais alma que muitos filmes de primeira linha do estúdio, é hora de repensar as prioridades. Certamente esse não é o retorno da “velha Marvel”, mas seria legal pensar que, no mínimo, poderia ser um novo começo com algo que andava em falta: a vontade de dizer algo.